michelle. 23 anos. filósofa na academia. vagabunda no mundo.


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14.6.07 - 11:03 a. m.


os cacos





de repente as coisas se revelam mais enigmáticas do que poderiam ser até então. não, não se revelam, pois nunca são reveladas, mas apenas aparecem mais, se deslocam e perdem o que antes poderia ser funcional. se exibem, mexem-se freneticamente estando paradas no mundo físico.

e aí alguns infelizes percebem tais movimentos. infelizes como eu. infelizes que sentem, que procuram, mergulham até o fundo do mar das coisas - ou acreditam fazê-lo -, existem conscientes da existência e de suas armadilhas conhecíveis e inconhecíveis. alguns outros fingem que não percebem nada além do físico, para viverem mais sossegados e de forma objetiva. há também os têm fé no poder soberano do além-físico, jogando para ele a responsabilidade sobre os acontecimentos, preocupando-se apenas em viver no objetivo e "possível", obedecendo - ou não - a soberania como forma de contribuição.

mas quanto aos infelizes... os infelizes se cansam, sentem-se exauridos, esgotados, desprezados, jogados no canto do mundo. mas também possuem momentos maravilhosos, intensos e intensivos.


cansaço, o famoso cansaço repetitivo dos infelizes invadiu-me novamente.
cansei de tentar entender o mundo, os outros... cansei de juntar meus cacos e, principalmente, os dos outros, no escuro. caio para pegá-los, a todo momento, na esperança de que eles não me machucarão por vontade própria ou por descuido meu. ah, os cacos! tão presentes, tão ausentes... há tantos, em toda a parte, a todo o momento. e eu - a moça-cacos -, eu colho os mais afiados, mais obscuros e foscos, mais provocativos. escolho os pontiagudos, e se não houver, quebro até formá-los.

mais enigmáticos que qualquer coisa são os cacos. não se revelam nunca, pois nos cortam antes de qualquer momento extremo. no máximo conseguimos contemplá-los superficialmente. impossível navegar neles mesmos, impossível entendê-los, amá-los como idealizamos. cacos que nos iludem, nos fazem acreditar que conhecemos, presenciamos e vivenciamos suas faculdades. ah, os cacos...


eu tenho medo dos cacos, logo tenho medo do mundo... porque este só é feito deles - só?
os cacos são tudo
mas seria tudo os cacos?






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