michelle. 23 anos. filósofa na academia. vagabunda no mundo.


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16.4.07 - 1:59 p. m.


a cor


sempre fui aquela que nunca gosta de ninguém, mas quando gosta, fica encantada. obcecada, eu diria, porque encantada mesmo não fico. o alcançável e imaginável me dá calafrios e acaba com qualquer espécie de fascinação que eu teria posteriormente. então é obsessão pela pessoa, pela companhia, pelo apreço simples, pelo sentimento, pelos laços e pelas idéias de crescimento com.

sempre fui assim, antiquada no amor.
choro, ouço músicas bregas, escrevo algumas coisas - que geralmente nunca mando -, penso a todo momento na pessoa e todas essas bobagens. sou mãe, quero cuidar, fazer carinho. e olha que eles ainda me chamam de fria. provavelmente porque só digo as coisas quando sinto e estou confortável para tal. tanto as boas como as ruins. e aí, claro, vem aquela chuva de realidade. os pés voltam para o chão, o café da manhã é servido na cama depois de muitas viradas e reviradas, a vontade de agradar só acontece quando se sente que está sendo de forma honesta. essa obsessão por honestidade, acima de tudo. fria, grossa, estúpida. "racional", até.


às 6 da manhã ele acorda, querendo sexo. eu não sinto nada, não sinto nada.
tenho certo problemas com autordade, já diria a taróloga. mas não é só isso. sinto certa repudia, porque passei a minha vida inteira inconscientemente negando minha natureza animal. e aí fazemos aquele sexo mecânico, porque combinamos de fazer antes, ao invés de deixar tudo acontecer. ninguém deixa nada acontecer nesse relacionamento. nada inesperado, nenhuma surpresa. hoje vou te dar um presente, amanhã vamos à feira, preciso saber com antecedência para planejar meu dia, vamos fazer um sexo quando chegarmos em casa, vamos comer risoto, o mundo é x e somente x, y não me atrai e não adianta mencioná-lo, porque estraga a contrução bonita e lógica dos meus raciocínios. razão humana levada à sério, vida levada à sério da pior forma possível.

aí eu tento, tento. finjo que não estou vendo um limite no que já é em algum sentido limitado, finjo que não estou me limitando convivendo com tal... proeza, finjo que as noites estão boas, que há algo bonito no exato e óbvio, que podemos viver com essa repressão de emoções porque só assim podemos buscar o conhecimento puro e caminhar para uma sabedoria almejada. finjo porque sinto, porque quero, vislumbro. vislumbrar, vislumbrar... acredito tanto no que vejo que esqueço a possibilidade do engano - o meu. na possibilidade de estar dentro de uma crise ou um mundo paralelo ao que de costume é meu e enxergar coisas absurdas, que quando de volta ao meu prisma de costume serão colocadas em xeque e me machucarão, de certa forma.

mas como admitir essa possibilidade? sou uma só sempre, até a morte? tenho uma natureza que me é própria? me engano por ter mudado de posição, porque voltarei à de costume - mais, à de natureza? ilusão? como saber sobre a ilusão? quais os parâmetros para considerar algo ilusório? não teria eu confiavelmente mudado, por estar em constante mudança? mas porque então, em relacionamentos, acabo, com o tempo, percebendo que havia distorcido tudo por conta do contexto, que estava tão perto de mim que não enxergava minhas tendências? estou, eu, dentro de mim, e por isso não consigo me analisar tão bem. o contexto é o meu, a construção psicológica é a minha, a interpretação da minha própria interpretação é de difícil apalpe. serão muitas as possibilidades, assim como as de interpretações outras, também.

sim, assim como as de interpretações outras. ou seja...



é.... na verdade, estamos todos perdidos no mar dos interpretados, dos que interpretam e do que sentimos.
e em constante movimento e variação de velocidade.



e aí você me pergunta: qual a cor desse mar em que estamos?






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