michelle. 23 anos. filósofa na academia. vagabunda no mundo.


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1.12.06 - 3:57 a. m.


a faca e o mundo


não venha com essa faca a ferir meu íntimo, por favor. sinto-me fraca, e a cada momento a força que ela possui se mostra mais intensa. fico sem reação e com medo da morte. a morte, a morte. a morte de tudo aquilo que ficou apenas comigo por tanto tempo, de tudo aquilo que guardei até de mim mesma, fingindo que não acontecia. fugindo sempre, desviando-me das situações que comprometiam essa fuga, pregando uma auto-suficiência para tudo parecer bem.

a fé. a fé em algo que queremos ser. a fé em que podemos pensar e acreditar em algo intimamente por não sermos capazes de passar por cima das nossas inseguranças, orgulho, vaidade e fraquezas e seguir o que faz sentido para nós, de fato.
mas o que faria sentido de fato? algo faria sentido sem o externo e sem esses conflitos que nos fazem ter idéias e comportamentos de uma certa ordem?

chega, chega, chega.
sinto-me sem chão, imersa em ares confusos, que provocam sensações desconhecidas e intensas. como se cada átomo provocasse algo em mim, como se cada bactéria estivesse tentando se comunicar com o meu ser, com a minha intimidade, com o meu pensamento.


mas não sei mais. não sei e não quero pensar, não quero pensar.
poderia anular tudo o que disse e pensei até hoje e não faria diferença, porque simplesmente não quero e não consigo pensar no que penso e, assim, não consigo tomar decisões e fazer escolhas. não consigo viver, então.

por isso pára, mundo, pára. pára porque não estou conseguindo me relacionar com você. não quero conversas que necessitam de um acordo, não quero ter de decidir agora o que devo fazer, não quero saber, não quero me relacionar, não quero "ser", não quero nada, não quero tudo, não quero um pouco.

mas o mundo prossegue como sempre prosseguiu, o mundo prossegue e exige de mim. não pára jamais, e faz questão de rir e exigir que eu também não pare.

e enquanto o mundo e eu prosseguirmos, essa faca existirá. posso tentar amenizar sua força por um tempo e fingir que ela não está em mim e que a dor não existe, posso tentar colocar curativos e me conformar ou deixá-la entrar como tanto almeja e, depois, tirá-la e livrar-me de uma vez de toda essa dor.


o mundo e a faca, sempre, juntos, enquanto houver um eu.






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