michelle. 23 anos. filósofa na academia. vagabunda no mundo.


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13.10.06 - 4:04 a. m.


movimentos





em meio às luzes, às fumaças que se misturam aos meus insucessos,
aos sorrisos indecifráveis daquelas pessoas ao meu redor
às danças, que encobrem momentaneamente a angústia com o movimento inquieto -
o movimento, sim:
aquele que não permite sentirmos o que está lá -
o fragmento dos fragmentos
que mesmo assim possui um movimento em si
e até o próprio movimento o possui
até chegar-se a um nível que a incapacidade humana não permite conhecer
assim como qualquer movimento
de qualquer instante
de qualquer ato
de qualquer aparente imobilidade.


e assim movimentos agem, fazem, corróem
inimagináveis, inigualáveis, lindos
apaixonantes, destruidores, apaziguadores -
que nada mais são que ordenadores da desordem
ou desordenadores da ordem
ou, até, desordenadores da desordem,
ordenadores da própria ordem,
corroendo, corroendo
destruindo, transformando.


em meio a tudo isso,
em meio ao concreto, ao movimento que disfarça, aos sinais,
às roupas coloridas e suas combinações, aos sorrisos indecifráveis
aos movimentos dos corpos, aos penteados
em meio às vontades, em meio às contruções de cubículos que permitem a adequação de movimentos
para nada mais que movimentos serem feitos sob conforto e conformação momentânea do que parece ser pleno
em meio a todos esses artifícios e movimentos que disfarçam a falta do movimento real - aquele que a humanidade tanto procura e foge simultaneamente
há a inquietude
o ruído do silêncio
o ruído estonteante, que é o do silêncio
essa vibração de algo que não se explica
de algo além daquela dos corpos sonoros
não, não são corpos sonoros
não são sequer corpos
não são palavras, não são nada que possa ser dito.
não são o que são, são o que não parecem ser
o que jamais parecem ser
o que nunca se imaginou ser.


peço um trago do cigarro dele, em meio a tantos movimentos aparentes;
dou um trago, e a fumaça aparente entra em meu pulmão
meu corpo sente o ruído - aquele que encobre o ruído do silêncio,
na tentativa de me sentir plenamente parte do mundo que se vê
do aparente, do palpável.
sinto-me real, tendo a sensação de que pertenço a um mundo não apenas aparente e angustiante,
mas real e absoluto.
sinto-me real e plena - como todos nós, medíocres,
criando sempre movimentos aparentes para fugirmos da angústia do real, indecifrável por criaturas como nós.





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