michelle. 23 anos. filósofa na academia. vagabunda no mundo.


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24.9.06 - 8:09 p. m.


sem título


chegou em casa, tirou o isqueiro e as moedas do bolso e atirou-os no chão, uma das únicas coisas que havia restado da casa - fora as janelas, portas, paredes, seu colchão, o frigobar e o forninho elétrico que sua irmã havia lhe dado pouco antes de morrer.

encostou a cabeça na parede por um tempo. (...) as coisas giravam, moviam-se, possuíam luzes próprias - inclusive suas poucas certezas. as fotos e cartas não faziam mais sentido, e muito menos as memórias. os sentimentos não estavam mais presentes dentro dele. tentava pensar no que antes o deixava feliz, mas não chegava a nenhuma sensação, apenas a do frio que percorria seu corpo e o que enxergava. as janelas estavam abertas e o vento e neve eram intensos, mas ele não percebera.


procurou um cigarro, pegou o resto de gim que estava no canto do quarto há anos - a única bebida que deixava de lado e, agora, a única que havia para tomar - e deitou-se no chão. era ele e o chão, ele e o tudo, ele e o nada, ele e o vazio. seu vazio, seu nada, seu tudo.

tirou sua roupa e decidiu deitar-se sobre o chão. queria ter um maior contato com o frio, o gelado. tremia, tremia. seus lábios estavam roxos, idéias e pessoas desconhecidas e atraentes invadiam sua mente.


o chão foi tornando-se macio e quente, acolhedor. para qualquer pessoa que estivesse ao seu redor, ele já havia perdido a consciência. para ele, estava consciente como nunca.
consciência essa que lhe causava grande medo, pois tudo havia mudado: as coisas estavam escuras e quentes, já não se via - ao menos como antes - mais.


o chão, que antes era um obstáculo, agora era o maior dos auxiliares. invadia-o, sugava-o, enchia-o de calor e afago.
sua boca, antes roxa, ficava a cada momento mais fascinantemente branca.
o frio transformara-se em um calor interno e intenso, embora seu corpo estivesse gélido.



não entendia nada,
mas sentia uma inédita sensação de paz e tranqüilidade.






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